Chay_Tee, Shutterstock

Por Natalia Rafaela Marzola Leite, médica CRM-PR 49183 pós-graduada em Nutrição e Medicina Vegetariana pela SVB para Escola de Nutrição

Com o crescente número de pesquisas demonstrando os benefícios de uma dieta baseada em plantas, tanto para a saúde das pessoas quanto para a saúde do planeta, diversas empresas começaram a desenvolver “Alternativas de Carne à Base de Plantas” (ACBP), ou seja, carnes vegetais. Entretanto, considerando as recomendações de saúde que nos aconselham a evitar ao máximo alimentos ultraprocessados, surge uma dúvida natural: substituir a carne animal por carne vegetal, mesmo sendo um alimento ultraprocessado, pode ser benéfico para a saúde?

No dia 25 de junho de 2024, foi publicado um artigo de revisão no Canadian Journal of Cardiology, que analisou o impacto das ACBPs em fatores de risco de doenças cardiovasculares, como níveis de colesterol e pressão arterial. A revisão analisou estudos publicados entre 1970 e 2023, abrangendo uma ampla gama de pesquisas que investigaram o conteúdo nutricional das ACBPs e seu impacto na saúde.

Segundo este estudo, apesar dos perfis nutricionais das ACBPs variarem significativamente, de modo geral, elas apresentam um perfil mais favorável ao coração do que a carne animal. Muitas ACBPs contêm menos gordura saturada, zero colesterol e mais fibras, o que é benéfico para a saúde cardiovascular. Além disso, alguns estudos analisados indicaram que a substituição das carnes processadas pelas ACBPs pode ajudar a diminuir os níveis de colesterol no sangue, reduzindo o LDL, conhecido como “colesterol ruim” por ser responsável pelo aparecimento de placas de gordura nos vasos sanguíneos.

Mais um ponto levantado pela revisão é que, apesar de possuírem alto teor de sódio adicionado, não foram encontradas evidências de que as ACBPs aumentam a pressão arterial. Ainda assim, para quem optar por consumir regularmente alguma carne vegetal, é aconselhável procurar opções com menos sódio e menos gordura saturada.

Vale ressaltar que a maioria dos estudos até agora focou em ensaios clínicos de curto prazo, que, embora úteis, não fornecem uma imagem completa dos efeitos a longo prazo. Portanto, é necessário mais estudos para entender melhor os impactos de longo prazo das ACBPs na saúde cardiovascular.

Outra reflexão trazida pelos autores é que embora as ACBPs sejam consideradas alimentos ultraprocessados (AUPs), essa categoria inclui uma ampla gama de produtos, como refrigerantes, pizza, barras de chocolate, leite de amêndoa, iogurte com sabor, pão integral, carne processada e as próprias ACBPs. No entanto, enquanto refrigerantes e carnes processadas aumentam os riscos de doenças cardiovasculares, pão integral e cereais integrais são capazes de diminuir esses riscos. Isso indica que existem alimentos ultraprocessados muito prejudiciais, enquanto outros não são tão “vilões”. De acordo com os resultados do estudo, pelo menos em relação às doenças cardiovasculares, as ACBPs parecem ter um efeito positivo no organismo.

Além dos benefícios potenciais para a saúde, há também considerações ambientais importantes. A produção de ACBPs tem um impacto ambiental muito menor do que a produção de carne animal. A pecuária é um dos maiores contribuintes para as emissões de gases de efeito estufa, desmatamento e uso excessivo de recursos hídricos. Ao optar por

ACBPs, os consumidores podem reduzir significativamente sua pegada ecológica, contribuindo para a sustentabilidade do planeta.

Assim, para aqueles que ainda estão no processo de abandonar ou diminuir o consumo de carne animal, a carne vegetal pode ser um facilitador nesse processo, oferecendo uma ponte prática e saborosa para uma dieta baseada em plantas, ajudando a satisfazer desejos de sabor e textura semelhantes à carne animal.

As ACBPs também podem ser uma excelente opção para quem recebe visitas que ainda não são vegetarianas. Oferecer essas alternativas pode ajudar a mostrar que é possível desfrutar de refeições deliciosas e satisfatórias sem recorrer à carne animal, contribuindo para uma mudança gradual nas preferências alimentares. Esse aspecto social e cultural é importante, pois a transição para uma dieta mais baseada em plantas pode ser desafiadora para muitas pessoas devido a hábitos alimentares enraizados e preferências de sabor.

Em resumo, as Alternativas de Carne à Base de Plantas têm o potencial de oferecer benefícios significativos tanto para a saúde individual quanto para a saúde do planeta. Embora mais pesquisas sejam necessárias para entender completamente os efeitos de longo prazo dessas alternativas, as evidências atuais sugerem que elas podem ser uma escolha saudável e sustentável. Ao facilitar a transição para uma dieta baseada em plantas, as ACBPs ajudam a reduzir o impacto ambiental e promovem hábitos alimentares mais saudáveis.