Vegetariana desde 2006, a jornalista Samira Menezes se classifica como uma gulosa de plantão e garante não ter perdido nada depois de ter excluído carnes, ovos e laticínios do cardápio. Muito pelo contrário. “Comecei a apreciar outros sabores e a experimentar alimentos que antes eu desconhecia. Gosto de dizer que o veganismo deixou meu paladar mais sutil, rico e inteligente”.

Samira Menezes - Foto: Alberto Riva
Essa paixão pela comida foi, segundo a jornalista paulistana, que hoje vive na Itália, um dos motivos porque ela escreveu Confesso que Comi, livro lançado pela Editora Europa. Um divertido relato confessional das experiências que a autora vivenciou na busca de uma alimentação mais saudável, o livro traz informações básicas para quem quer se tornar vegetariano e reflexões que irão emocionar vegetarianos e veganos de longa data. Confira a entrevista que ela deu para a Revista dos Vegetarianos, publicação para a qual colabora mensalmente com reportagens sobre nutrição, saúde e comportamento.

– Revista dos vegetarianos: Por que você decidiu escrever Confesso que Comi?
Samira Menezes: É batata. Toda vez que meu vegetarianismo vem à tona, em alguma conversa com onívoros, sou obrigada a falar sobre minha lista do supermercado, sobre meu estado de saúde e muitas outras coisas que ninguém me questionaria se eu fosse onívora. Eu estava cansada disso e, então, ficava imaginando o que eu poderia fazer para reunir todas as informações que os curiosos de plantão pediam sobre minha alimentação.

Esse momento coincidiu com um período da minha profissão de jornalista em que eu buscava algo diferente, que fosse além das matérias que escrevia (e continuo escrevendo) para a Revista dos Vegetarianos. Queria reunir as informações mais básicas sobre o tema, mas de um modo mais divertido, leve. Por isso, resolvi incluir histórias pessoais: algumas do período em que eu era onívora e muitas sobre situações que vivi depois de ter me tornado vegetariana. Enfim, como o vegetarianismo foi uma das melhores coisas que fiz na vida, queria compartilhar essa experiência com mais gente.

– Quanto tempo demorou pra ficar pronto?
Entre querer escrever, organizar as ideias e conseguir colocá-las no papel, se passaram uns três anos.

– Como surgiu o título?
O título foi escolhido pelo diretor editorial da Editora Europa, Roberto Araújo, e não poderia ser mais adequado. Além de falar bastante sobre comida (imagino que uns 90% da obra gire em torno dela), no livro eu confesso muita coisa que geralmente é considerada tabu entre os vegetarianos, como os quilos de carne que eu costumava comer antes de optar pelo vegetarianismo e o dia em que, já vegana, comi voluntariamente um monte de queijo.

Sinto que quando uma pessoa se declara vegetariana ou vegana, existe uma cobrança muito forte para que ela mantenha uma postura 100% coerente. Até mesmo o tipo de material do sapato que ela está usando é cobrado. Óbvio, se ela decide seguir essa filosofia de vida, deve sim procurar excluir o máximo possível de produtos proveniente de animais. Mas a gente sabe que na vida real, infelizmente não é tão simples assim conseguir isso. A exploração animal é muito bem escondida dos consumidores. Se você parar pra pensar que até a tinta da caneta BIC é testada em animais, dá pra ter uma ideia da dificuldade que é conseguir ser 100% vegano.

– No seu trabalho como jornalista, quais são os argumentos mais difíceis de divulgar da cultura vegetariana?
Saúde e nutrição, sem dúvida. A grande parte das reportagens que escrevo fala sobre os benefícios do vegetarianismo para a saúde. Por isso, entrevisto médicos das mais diferentes especialidades. Mas mesmo com um número cada vez maior de publicações científicas favoráveis ao vegetarianismo, ainda sinto muita relutância da comunidade médica brasileira em afirmar que o vegetarianismo praticado de forma equilibrada é bom para a saúde. Por esse motivo, muitos dos médicos que entrevisto são estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos e da Europa. Assim, consigo divulgar com mais facilidade esse tema ainda cheio de mitos, que infelizmente são levados a diante por médicos brasileiros, como o da proteína da carne.

– Por que você decidiu se tornar vegana?
Por não concordar com o modo como vacas leiteiras e galinhas são tratadas. É muito cruel.

– Hoje você mora na Itália, onde o presunto e o parmesão fazem parte da cultura nacional. Como você se vira aí?
É verdade que a Itália é famosa por esses produtos, mas ela também é conhecida pelas massas e pela dieta mediterrânea, que inclui azeite de oliva, ervas frescas, vinho, castanhas e muitos vegetais. Pra dizer a verdade, a cozinha italiana é muito mais simpática ao veganismo do que a brasileira. No Brasil, se você vai a um restaurante qualquer, é difícil até mesmo de comer feijão, porque a maioria tem bacon no meio. Na Itália, sempre vai ter algo para um vegano comer. Além disso, a Itália fica na Europa, continente onde a oferta de produtos veganos industrializados, como queijos veganos, é bem maior do que no Brasil.

– Além do seu, quais livros você indicaria a uma pessoa que gostaria de se tornar vegana?
Para se indignar com a realidade dos animais recomendo: “Comer Animais”, do Jonathan Safran Foer. Para se informar sobre nutrição vegana: “Alimentação sem Carne”, do Dr. Eric Slywitch. E para refletir sobre a relação entre ética e comida indico: “A Ética da Alimentação”, de Peter Singer.

– E o seu é para o quê?
O meu é para se informar, se divertir e, ao mesmo tempo, ter uma base do que significa levar uma vida vegetariana.

– Você mantém um blog com receitas veganas, o blogcasavegana. Qual é sua receita preferida?
Difícil dizer uma porque eu gosto de várias. Sou tão gulosa! Amei muito a cheesecake de frutas vermelhas, o falafel, o hambúrguer de feijão, todas as massas, o sorvete de chocolate, os sucos, as vitaminas, os espetinhos… A cozinha vegana é tão rica e permite muitas combinações e receitas diferentes. É por isso que eu simplesmente adoro a comida vegana.

 

  • Ficha técnica:

Confesso que Comi – Minha jornada rumo a uma alimentação vegetariana
– Autora: Samira Menezes
– Número de páginas: 176
– Formato: 13,5 cm x 20,5 cm
– Preço: R$39,90