Autor: Dr. George Guimarães

 

As dietas vegetariana e vegana exercem um papel de prevenção e tratamento do diabetes tipo 2 e esse efeito é atribuído às características nutricionais dessas dietas que, quando comparadas a uma dieta onívora (que inclui carnes e outros produtos de origem animal), são mais ricas em carboidratos complexos e fibras e mais pobres em gordura saturada e calorias totais.

O diabetes tipo 2 é aquele que, por múltiplos fatores, desenvolve-se ao longo da vida afetando um indivíduo que já teve em algum momento um bom estado de saúde no que diz respeito a essa doença. O que torna a pessoa diabética é a resistência que as células desenvolvem em responder à presença do hormônio insulina. O tratamento pode ser dietético ou pode necessitar a aplicação do hormônio insulina. Já o diabetes tipo 1 geralmente afeta o indivíduo em uma fase inicial da vida e é caracterizado quando o corpo não produz o hormônio insulina. Nessa forma da doença, sempre haverá a necessidade de usar a insulina injetável.

Quando falamos de abordagens nutricionais para prevenir e especialmente para reverter o diabetes, geralmente essas se aplicam ao diabetes tipo 2, ou seja, aquele que não necessita obrigatoriamente da aplicação do hormônio. No entanto, como a alimentação da mãe durante a gestação também influencia o risco de a criança desenvolver a doença, vemos um papel de prevenção para a dieta vegetariana também no diabetes tipo 1.

Um estudo publicado em setembro de 2009 demonstrou que as mães que consumiam a menor quantidade de vegetais durante a gestação tinham maior risco de dar à luz filhos com a doença. As mulheres que consumiam vegetais de 3 a 5 vezes por semana apresentaram um risco 71% maior de ter filhos com o diabetes tipo 1 quando comparadas às mulheres que consumiam vegetais todos os dias.

Em um estudo publicado em janeiro de 2010 no jornal médico Diabetes Care, pesquisadores analisaram 38.094 pacientes holandeses e concluíram que para cada acréscimo de 5% nas calorias derivadas de proteína de origem animal ao invés de ser derivada de carboidratos ou gordura, há um aumento equivalente de 30% no risco de desenvolver o diabetes tipo 2. O aumento no consumo de proteína de origem animal foi acompanhado pelo aumento no consumo de gordura saturada e colesterol e pelo aumento do peso corporal e da pressão arterial. Já o acréscimo no consumo de proteínas vegetais não demonstrou a mesma relação de aumento no risco de desenvolver a doença, apontando uma clara relação entre o consumo de produtos animais e o aumento no risco de desenvolvê-la.

Ainda sobre a relação da doença com o consumo de carne, um estudo publicado no jornal médico Diabetologia em outubro de 2009 fez uma revisão sistemática de 12 estudos anteriores e mostrou que o consumo de carne está diretamente associado ao risco de desenvolver o diabetes tipo 2. O risco foi aumentado em 21% para os indivíduos que consumiam mais carne vermelha e 41% para os que consumiam mais carnes processadas (como os embutidos, por exemplo).

Pesquisadores da Georgetown University compararam os efeitos de três dietas, uma com pouca gordura, outra prescrita pela Associação Americana do Diabetes e finalmente uma dieta vegana. A dieta vegana demonstrou exercer uma redução 59% maior nos níveis da glicose de jejum e os que aderiram a ela precisaram usar menos medicamentos para controlar a sua glicemia. Já os participantes do grupo que seguiu a dieta recomendada pela associação médica especializada (dieta essa que inclui produtos de origem animal) tiveram que usar a mesma quantidade de medicamentos que usavam antes da intervenção dietética. Além disso, os veganos reduziram o seu peso em até o dobro quando comparados a esse grupo e tiveram uma redução mais expressiva nos níveis de colesterol.

São muitas as evidências científicas que apontam para as dietas vegetariana e vegana como sendo muito eficientes não apenas na prevenção, mas também na reversão do diabetes tipo 2. Contudo, as estratégias utilizadas pela maior parte dos profissionais de saúde continuam a focar em mudanças de pouco efeito, já que não atingem o mesmo potencial que somente uma abordagem com as características nutricionais de uma dieta baseada em vegetais é capaz de oferecer: alto teor de fibras e carboidratos complexos e baixo teor de calorias, gordura saturada e colesterol. Como consequência dessas características e somadas a outras que lhes são peculiares, as dietas vegetariana e vegana trazem benefícios enormes para muitas das doenças que atualmente afetam a nossa sociedade.

 

Esse trecho foi retirado da Revista dos Vegetarianos, seção Artigo, edição 41