Por Valkiria Assis, nutricionista, pesquisadora e colunista da Escola de Nutrição

A endometriose é uma doença crônica e recorrente que afeta 6% a 10% das mulheres em idade reprodutiva, sendo uma das principais causas de dor pélvica e infertilidade, que pode ser acompanhada de dismenorreia (menstruação dolorosa), dispareunia (dor em relação sexual), disúria (dor ao urinar) e disquezia (dor ao defecar). Apesar de a causa da doença não ser totalmente elucidada, vários estudos têm investigado o uso da alimentação como estratégia terapêutica no tratamento. Os estudos apontam que há menos casos de endometriose quando a dieta inclui o consumo de frutas, vegetais, laticínios e ácidos graxos ômega-3. Por outro lado, há um aumento do risco de desenvolvimento da doença em populações que consomem ácidos graxos trans-insaturados e carne vermelha.

Há indícios de que a baixa ingestão de fibras (naturalmente presente nas frutas, cereais, leguminosas e alimentos do reino vegetal) pode gerar inflamação e estresse oxidativo mais pronunciados no organismo, fator prejudicial no tratamento e prevenção da endometriose. O consumo de álcool e carne vermelha também estão associados à piora dos sintomas.

Os ácidos graxos ômega-6 limitam a absorção dos ômega-3 que possuem ação anti-inflamatória no organismo, por esse motivo a proporção desses ômegas precisa estar equilibrada. Uma dieta baseada em plantas (plant-based), que contenha alimentos fontes de ômega-3, como chia, linhaça e nozes, e baixa em produtos ultraprocessados que contenham ômega-6 e gorduras trans, colabora com o equilíbrio da proporção dos ômegas e, consequentemente, com a redução do risco e desenvolvimento da endometriose.

Estudos também apontam que o consumo regular de ácidos graxos ômega-3 por pessoas com endometriose levam a uma menor intensidade e duração da dor, assim como redução do uso de analgésicos.

Alimentos com N-acetilcisteína, incluindo cebola, alho, gérmen de trigo, aveia, brócolis e couve-de-bruxelas, são relatados como capazes de controlar a proliferação celular e o estresse oxidativo nas células endometrióticas.

Assim como vários estudos relataram que o sulforafano (SFN), um isotiocianato em vegetais crucíferos, como couve-flor, repolho e brócolis, tem efeito antioxidante, antitumoral, anti-inflamatório e de reforço imunológico. Compostos bioativos, naturalmente presentes nas uvas, açafrão, vegetais e cereais integrais também são ricos em antioxidantes e anti-inflamatórios.

A endometriose é uma doença complexa e multifatorial, cuja patogênese ainda não é totalmente compreendida. Devido à limitação das amostras na literatura existente, não é possível estabelecer uma associação conclusiva que mensure o efeito da dieta no tratamento, evidenciando a necessidade de mais estudos sobre a temática.

Nenhum alimento isoladamente será capaz de tratar a endometriose ou outra patologia. No entanto, as evidências sugerem que uma dieta baseada em plantas, consumindo com frequência alimentos vegetais integrais e naturais (se possível orgânicos), contribui para a melhora de diversos aspectos de saúde, incluindo a tendência de melhorar os sintomas, assim como prevenir o risco de desenvolvimento da doença.