Por Valkiria Assis, nutricionista, pesquisadora e colunista da Escola de Nutrição

Plantas medicinais são usadas para tratamento de doenças há milhares de anos, entretanto, sua utilização deve ser adequada e responsável para evitar efeitos adversos. Uma das formas de consumo de plantas medicinais são os chás, que podem ser feitos por infusão (recomendado para flores e folhas) ou decocção (usado para cascas e partes duras da planta).

Notícias recentes veiculadas na mídia sobre a morte de mulheres devido ao uso de chás emagrecedores são um alarde sobre os riscos do uso de ervas sem indicação. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) publicaram um posicionamento a respeito do assunto. A ABESO e a SBEM alertam que, atualmente, não há qualquer evidência científica que justifique o uso de chás e/ou suplementos no tratamento da obesidade, devendo essa abordagem ser abandonada.

Produtos com alegações milagrosas, provavelmente, estão irregulares na Anvisa, o que significa que sua segurança, qualidade e eficácia não foram comprovadas. É ainda mais importante verificar a regularidade do produto no site da Anvisa, devido ao fato de que produtos irregulares podem ser contaminados com microorganismos ou substâncias tóxicas e conter em sua composição grandes quantidades de substâncias não informadas no rótulo, como por exemplo, anti-inflamatórios ou inibidores de apetite, ou ainda, substâncias sintéticas associadas a plantas medicinais, sendo portanto um grande risco à saúde.

Nem todo chá de planta é medicinal ou isento de riscos. Os componentes das plantas medicinais podem interagir com alimentos, medicamentos ou até mesmo alterar exames laboratoriais. 

Boldo é uma planta usada popularmente para tratar tudo, mas de acordo com a Anvisa é contraindicado para menores de 6 anos; para pacientes com histórico de hipersensibilidade e alergia a qualquer um dos componentes do fitoterápico; para pessoas com casos de obstrução das vias biliares, cálculos biliares, infecções ou câncer de ducto biliar e câncer de pâncreas; para pacientes com quadro de afecções severas no fígado, como hepatite viral, cirrose e hepatite tóxica; para gestantes, devido a presença do alcalóide esparteína, que tem atividade ocitóxica; e para mulheres em período de lactância, devido à presença de alcalóides e risco de neurotoxicidade.

No Memento Fitoterápico, um documento disponibilizado gratuitamente pela Anvisa, é possível verificar as indicações e contraindicações de uso de diversos tipos de chás.

Os chás nunca devem ser ofertados antes dos seis meses de idade dos bebês (assim como nenhum outro alimento além do leite materno e/ou fórmula infantil). Apesar de a prática ser comum, a oferta de água ou chás antes dos seis meses de vida pode dobrar o risco de diarréia na criança, além de ocasionar o desmame precoce.

Chás de ervas são contraindicados na gravidez pois não há estudos suficientes para confirmar a segurança do seu uso nesse período, sendo recomendados somente chás de gengibre e frutas. 

Deve-se evitar a oferta de chás com cafeína (chá-mate e chá-preto, por exemplo) para crianças pequenas, para não prejudicar seu sono. Pessoas com doenças gastrointestinais, como gastrite e refluxo gastroesofágico, por exemplo, também devem evitar essas bebidas.

Os chás devem ser consumidos com certa cautela, observando se há alguma contraindicação individual para a ingestão. A maior preocupação não está nos chás caseiros. Dificilmente uma xícara de chá de camomila ou outra erva levará a intoxicação e a problemas de saúde. Entretanto, misturas prontas, principalmente de chás milagrosos e blends de ervas, não oferecem benefícios à saúde e não devem ser consumidos. Na dúvida sobre a segurança dos chás, consulte um profissional de saúde para orientação individual.