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Por Valkiria Assis, nutricionista, pesquisadora e colunista da Escola de Nutrição

O vegetarianismo não é uma dieta da moda. É um estilo de alimentação que exclui carnes e outros alimentos de origem animal por motivações éticas, ambientais, religiosas, saúde, entre outras. Apesar de o vegetarianismo já ter sido interpretado como uma restrição que predispõe ao desenvolvimento de transtornos alimentares, a literatura científica afirma que não há estudos suficientes para determinar uma relação causal entre adoção da dieta vegetariana e desenvolvimento de transtornos alimentares, como anorexia, bulimia e compulsão alimentar.

Esses transtornos são multifatoriais, portanto, podem ser causados por predisposição genética, sociocultural, biológica e psicológica. Histórico familiar de transtornos alimentares ou transtorno do humor, assim como a valorização extrema do corpo magro, são os principais fatores desencadeantes dos transtornos alimentares, o vegetarianismo isoladamente não é capaz de gerar tais patologias.

Além disso, é limitada a visão de que a alimentação vegetariana é restritiva, pois ignora o fato de que onívoros tendem a ter um repertório alimentar menos variado, enquanto vegetarianos podem ser estimulados a descobrir novos sabores e preparações para substituições na dieta.

Pessoas com transtornos alimentares podem adotar uma dieta vegetariana pela aceitação social de exclusão de grupos alimentares. Na anorexia nervosa, por exemplo, devido ao alto teor de calorias e lipídios encontrado em carnes e laticínios, o indivíduo acaba excluindo esses alimentos da dieta em algum momento da evolução da patologia, sendo o vegetarianismo uma das consequências do transtorno e não a causa.

A ortorexia nervosa é uma condição que gera fixação pela saúde e forma física, sem flexibilidade alimentar, prejudicando a vida social, apresentando restrições severas e obsessão por alimentos rotulados como saudáveis. Pelo vegetarianismo possuir diversos benefícios para a saúde, pacientes com ortorexia podem se identificar mais com esse estilo alimentar e adotar uma dieta vegetariana como consequência do quadro. Uma revisão de estudos publicada em 2021 aponta que as evidências científicas são limitadas e com delineamento metodológico inadequado. Portanto, não é estabelecida uma relação causal entre adesão à dieta vegetariana e ortorexia nervosa.

Profissionais de saúde devem se atentar aos sinais de transtornos alimentares ou ortorexia nervosa em todos pacientes, sendo eles onívoros ou vegetarianos.

Uma preocupação saudável com alimentação não é patológica e pode ser muito benéfica. Porém, é importante se atentar a sinais de adoecimento físico e mental desencadeados pela alimentação.

Para vegetarianos e onívoros, é indicado priorizar o consumo de alimentos vegetais e naturais (de preferência orgânicos). Na impossibilidade do acesso a esses alimentos ou no consumo de outros tidos como “menos saudáveis”, não é normal sentir angústia, sofrimento, privação de vida social, sensações físicas negativas por violação de regras autoimpostas e medo exagerado do desenvolvimento de doenças. No surgimento recorrente desses sintomas, é indicado procurar o acompanhamento de profissionais de saúde.