Por Valkiria Assis, nutricionista, pesquisadora e colunista da Escola de Nutrição

O posicionamento da Academy of Nutrition and Dietetics é que dietas vegetarianas bem planejadas, incluindo veganas, são saudáveis, nutricionalmente adequadas e podem fornecer benefícios à saúde para a prevenção e tratamento de certas doenças. Essas dietas são apropriadas para todas as fases do ciclo de vida, incluindo gravidez, lactação, infância, adolescência, idade adulta e para atletas.

Assim como para crianças onívoras, o aleitamento humano exclusivo é recomendado até os primeiros 6 meses de vida, quando é iniciada a introdução alimentar que segue até os 2 anos de idade da criança e pode ser conciliada com a amamentação.

Em casos de impossibilidade do aleitamento, recomenda-se o uso de fórmulas infantis. Para crianças vegetarianas, há no mercado opções de fórmulas de leite de vaca e fórmulas de soja ou arroz para bebês veganos. O uso de fórmulas caseiras (à base de grãos e leites vegetais) é fortemente desencorajado, já que têm sido associadas a problemas nutricionais em bebês.

Na Itália, 7,1% da população segue uma dieta vegetariana, e foi desenvolvido no país o VegPlate Junior (VPJ), um Guia Alimentar Vegetariano específico para o planejamento alimentar na infância e adolescência.

As recomendações centrais do guia são incluir na alimentação uma variedade de grãos, leguminosas e seus derivados, nozes, sementes, vegetais e frutas. Produtos lácteos e ovos são considerados opcionais.

Alimentos de coloração alaranjada são ricos em betacaroteno e devem ser oferecidos com regularidade às crianças, assim como os vegetais verde-escuros, que são fontes de cálcio, e frutas ricas em vitamina C, que aumentam a absorção do ferro e, por isso, devem ser ingeridas como sobremesa do almoço ou jantar.

Em relação ao ômega-3, a necessidade de DHA é maior na primeira infância devido ao desenvolvimento neural e da retina, e pode ser suprida com óleo de linhaça, chia e nozes na alimentação da criança.

Leite de soja fortificado com cálcio (com rótulo clean label) ou leite lácteo podem ser consumidos com moderação a partir de 1 ano de idade para crianças que estão com desenvolvimento adequado e já comem uma variedade de alimentos.

Nutrientes que podem exigir atenção na alimentação incluem ferro, zinco, vitamina B12, cálcio e vitamina D.

A ingestão média de proteínas por crianças vegetarianas, alcança ou ultrapassa as recomendações, não se configurando como uma preocupação se a criança ingere regularmente leguminosas (grão-de-bico, feijões, ervilha, lentilha, soja…) e seus derivados (homus e tofu, por exemplo), assim como cereais integrais.

É interessante utilizar métodos de preparo de alimentos como germinação, remolho e fermentação de massa. Independentemente da idade e da escolha alimentar, especialmente o remolho das leguminosas (em média 12 horas antes do cozimento), é uma etapa indispensável para otimizar a absorção de ferro e zinco por meio da redução dos antinutrientes do alimento.

Assim como para indivíduos onívoros, a partir de um ano de idade é recomendado avaliar se há deficiências nutricionais por exames sanguíneos e, se for necessário, a suplementação de ferro e de vitamina B12 podem ser indicadas.

Alguns benefícios de uma dieta vegetariana na infância e adolescência incluem maior consumo de frutas e legumes, menos doces e lanches salgados e menor ingestão de gordura saturada.

A construção de um hábito alimentar baseado em alimentos vegetais e naturais no início da vida aumenta as chances de manutenção de hábitos saudáveis ao longo da vida. O vegetarianismo na infância além de ser seguro traz diversos benefícios à saúde humana, animal e planetária, e não há motivos para contraindicar essa dieta às crianças.